Depois que passei dos cinquenta
resolvi desaprender a viver. Decidi largar ao longo do caminho que me resta a
tralha acumulada durante todos esses anos. Vou abandonando velhos hábitos,
ensinamentos que me passaram quando andava desavisado, como juntar dinheiro,
não falar com estranhos, evitar conflitos. A vida é curta para gasta-la com
medos tolos e pessoas fúteis. Procuro gente cuja alma seja vista da esquina.
Não preciso procurar muito, encontro este tipo até em fila de banco. Quero
aprender a desacelerar, a vida não é a maratona que me disseram. Dá tempo para
o cafezinho. Brigar pela janela por quê?.O corredor está ótimo e me dá fácil
acesso ao toillete. Sento ali e vejo o mundo passar. Quero falar com estranhos,
sim, eles me ensinam tantas coisas... Juntar dinheiro é inútil, quero juntar
amigos, amores e sorrisos. Ser honesto até com os que não gostam de mim, quem
sabe não se rendem? Ah, e viajar! Aprendo mais fácil quando viajo, quando
converso com pessoas que têm a cabeça onde tenho os pés. Seriedade? Há hora e
lugar. Na maior parte da vida quero é rir; no trabalho, na rua, no cemitério.
Morrer é difícil, rindo deve descer mais fácil. Está na hora de desaprender
muitas coisas. Às vezes dá medo de girar o carretel para trás, ler o livro
começando pelo fim, mas não tem jeito. Quero desaprender o que o mundo fez de
mim, não quero ser uma caricatura, uma obra falsificada. Não quero ser sucesso,
basta-me ser autêntico. O tempo tem me ensinado a não ser uma expectativa, um
jogo de cartas marcadas; razão porque quero desaprender a viver. Nesta banda
que me resta, só quero aprender a ser eu.
Marcio Leite
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