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sábado, 16 de setembro de 2017

A Lenda da “Orquídea Luizinha”.


A Lenda da “Orquídea Luizinha”.

Em uma cidade chinesa existia uma jovem chamada *Hoan Lan*, que divertia-se em fazer penar suas paixões
aos seus numerosos adoradores.
Por um sorriso, o jovem Kien Fu tinha cinzelado o ouro mais fino e trabalhado com paciência lindas peças de jade. A ingrata, após se adornar com todos os presentes do nobre apaixonado, riu-se dele e o desprezou.
Kien Fu, desesperado, acabou com a própria vida atirando-se ao Rio Vermelho.

O pintor Nguyen Ba conseguiu obter cores desconhecidas para pintar o retrato de sua amada.
Esta, porém, depois de ter exibido para a satisfação de sua vaidade a magnífica pintura, desprezou o artista que desapareceu para sempre no mistério das selvas.

Mai Da, apaixonado também, quis patentear seu amor à jovem volúvel, inventando um perfume delicioso somente digno dos Anjos.
A ingrata perfumou-se e mandou pôr na rua o seu adorador que, nada mais aspirando na vida, se envenenou.

Cung Le levou sua perseverança a incrustar nácar numa pulseira de ébano que não foi recebida pela ingrata.
O pobre endoideceu.

Mas o poderoso Deus das cinco flechas, Deus que a tudo via e tudo ordenava, julgou que era o momento de castigar tanta maldade, fazendo a jovem volúvel apaixonar-se pelo formoso Mun Cay.

Desde então, *Hoan Lan* sonhava no seu leito de nácar e sedas bordadas com seu adorado, cujo nome esvoaçava sobre seus lábios de carmin como uma borboleta sobre a rosa.
Ao despertar descia à piscina, banhava-se e adornava-se com suas jóias mais preciosas para ver passar seu querido Mun Cay, que nem se dignava a levantar os olhos para ela.

Nunca tinha considerado a formosa jovem, que nem todos são interessados pela fama de beleza que tinha
ardido à sua volta.

Os dias iam passando, e Mun Cay não saía de sua indiferença cruel. Um dia, *Hoan Lan* decidiu sair-lhe
ao encontro e declarar-lhe paixão. “Não me interessas, rapariga” disse ele.
Es como todas as outras, para mim não vales nada.
Se fosses como aquela que eu amo... Aquela sim que é uma Deusa".
tu, mísera *Hoan Lan*, com toda tua vaidade, não serves nem para atar-lhe as fitas das sandálias.
E, com um sorriso desdenhoso, afastou-se.

Em meio de seu desespero, *Hoan Lan* lembrou-se do Deus todo Poderoso que vivia na montanha de Tan-Vien. Talvez ele pudesse lhe valer; apesar da noite escura e chuvosa, a jovem dirigiu-se ao Monte Sagrado, onde residia sua última esperança.

A entrada do Templo subterrâneo era guardada por um terrível dragão.
Suplicou-lhe a concessão de entrada e, ao cabo de muitos pedidos, conseguiu penetrar num extenso corredor,
entre serpentes horríveis que lhe babujavam os pés nus.

Quando chegou junto ao Trono de Onix do poderoso Gênio, prostrou-se e implorou:
- Cura-me, que sofro horrorosamente. Amo Mun Cay que me despreza. -

“É justo o castigo" - respondeu o Genio - pois isso mesmo tens feito aos teus apaixonados.
Oh, Todo Poderoso, tem dó de mim. Concede-me o amor de meu querido Mun Cay.
Sabes bem que não posso viver sem ele.
Vai-te daqui - rugiu o Gênio - nada conseguirás.
0 castigo que pesa sobre ti, foi imposto pelo Kama que tudo sabe.
É justo que sofras. Sai do meu Templo.

À saída, *Hoan Lan* encontrou-se com uma bruxa de pés de cabra. “Formosa jovem” - disse-lhe a bruxa -
sei que és muito desgraçada. Queres vingar-se de Mun Cay? Vende-me a tua alma e juro-te que, embora
Mun Cay não te ame, nunca amará a outra mulher.  *Hoan Lan* voltou à sua casa, que lhe parecia um cárcere. Saía para os bosques a distrair sua pena, mas sempre em vão.
Um dia, vendo ao longe seu adorado Mun Cay, correu para ele e, quando se preparava para abraçá-lo, o jovem foi transformado numa árvore de ébano.
Neste momento apareceu a bruxa que, soltando uma gargalhada, lhe disse:
"Desta maneira o teu amado não pode ser nunca de outra mulher".
"Bruxa infame!" - exclamou chorando, a pobre *Hoan Lan* - o que fizeste a meu adorado?
“Devolva-o ou mata-me”. - "Contratos são contratos" - replicou a bruxa, rindo satanicamente.
"Cumpri o que prometi”. MunCay, embora nunca te ame, não amará a outra mulher. Prometi e cumpri.
“A tua alma me pertence”.
*Hoan Lan*, abraçada ao pé da árvore, clamava desesperadamente a seu tronco imóvel:
“Perdoa-me, Mun Cay”. Fala para mim uma só palavra de amor, de indulgência e compaixão.
Não vês como me arrasto aos seus pés, como te abraço, como sofro?
Mas a árvore nada respondia e a jovem ali ficou por muito tempo….

Uma manhã passou por ali um Gênio que se compadeceu da sua dor.
Acercando-se dela, pôs-lhe um dedo na testa e disse:
Mulher, procedeste muito mal. Foste volúvel até a crueldade e ingrata até a malvadez”.
Mas tua dor purificou a tua alma. Estás perdoada e vais deixar de sofrer.
Antes que a bruxa venha buscar a tua alma, vou transformar-te numa flor.
Ficarás sendo, no entanto, uma flor esquisita e requintada, que dê a impressão do que foi a tua vida maldosa. Quem vir as tuas pétalas facilmente adivinhará o que foi o teu espírito, caprichoso, volúvel, cruel, e a tua preocupação constante pela elegância.
Concedo-te um bem: “não te separarás do bem que adoras e viverás da sua seiva, parasita do teu amado”.
Assim falou o poderoso Gênio.
E, quando falava, a túnica rósea de *Hoan Lan* ia empalidecendo e tornando-se de uma delicada cor lilás.
Os olhos da jovem brilharam como pontos de ouro e as suas carnes tomaram a tonalidade do nácar.
Os seus formosos braços enrolaram-se na árvore na derradeira súplica.

E assim apareceu a primeira Orquídea do mundo que em seguida foi chamada “Luizinha”.

Recebi do amigo italiano Felice Valtortini.

Barra Velha, 16/09/2017



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